Da taça à caneca, um pouco do design do copo

Taí algo que sempre me intrigou: o design dos copos. É no mínimo curioso ficar imaginando a história por trás de cada formato, tamanho e espessura desse objeto tão comum quanto pouco “explicado”. Exceção à regra são as taças de vinho, é verdade. O líquido que virou febre por essas bandas trouxe a reboque mil e uma informações, inclusive, quanto a seu translúcido recipiente. Até eu, que entendo bulhufas de vinho, sei que o formato potencializa aromas e, consequentemente, o sabor. Mas ainda é pouco. Não satisfeita, embarquei nessa viagem para tentar descobrir, cacos, ou melhor, pistas dessa trajetória fascinante. Não vá esperando uma tese, está mais para uma conversa. Ali, no boteco da esquina. Bora lá?

Primeiro, as damas

Sabe uma panela? Com alças que parecem as das xícaras? Pois é, era assim o Kylix, parente distante da taça e recipiente onde os antigos gregos consumiam o vinho. Mas ele tinha lá seus problemas. Primeiro, com o material: era feito de barro, o que fazia o o vinho oxidar muito rápido. Daí, sabe aquele gosto amargo e forte? Arg… Outro problema era o uso comunitário. Quando não se passava o grande recipiente de um em um, era preciso usar frágeis e inadequados copos e cálices para bebê-lo. Ao longo do tempo, o que era de se esperar, o tamanho foi diminuindo e os materiais utilizados, mudando. Mas durante muito tempo ainda se manteve a tradição de todos beberem no mesmo recipiente. Era uma prova de fraternidade também e de que a bebida não estava envenenada! Sacou a tática ? 😉

Na Idade Média, os cálices de prata ainda eram exclusividade da Igreja Católica. Foi só na Idade Moderna que o vidro entrou em cena individualizando e, de certa forma, popularizando a taça. As cidades italianas tomaram a frente na fabricação do vidro em fins da Idade Média e, no século XV, com a descoberta do cristal e a utilização do chumbo pelos ingleses, os recipientes para a degustação ficaram mais transparentes e menos grossos. Daí em diante, as taças se tornaram cada vez mais translúcidas e finas, ganhando contornos específicos para cada tipo de vinho. (fonte: Clube dos Vinhos)

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Olha um kylix ateniense aí. Saiba mais sobre ele aqui.

É claro que, como toda boa história, há a parte lendária. Conta a mitologia grega, por exemplo, que Apolo, a pedido dos deuses, foi o encarregado em moldar o recipiente para que eles degustassem sua bebida divina. Apolo, então, designou Páris para a tarefa que a fez usando metais preciosos e tomando como base os seios de Helena de Tróia (o problema é que ele, digamos, bebeu desse cálice além da conta, sabe da história do cavalo de Tróia? Pois é). Entre os mortais, há diversas lendas similares. Na Idade Média, o rei francês Henrique II teria mandado fazer taças a partir dos seios de sua amante, Diane de Poitiers. Outra história famosa é que o bojo das primeiras taças de champagne foi modelado tomando como medida os seios de Maria Antonieta. E não para por aí: Madame Pompadour e Madame du Barry, ambas amante do rei Luís XV, e Pauline Bonaparte, irmã de Napoleão, também teriam emprestado seu corpo para o molde de taças. Mas não se empolgue, nenhum das histórias tem comprovação.

Trocando em miúdos, ou melhor, em design, segue, em linhas gerais (cada tipo de vinho, tem suas particularidades) um resumo:

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Fonte para a montagem:  Somelier Wine

 Bom, verdade ou não, Maria Antonieta deu nome à taça de champagne de formato mais baixo e bojo aberto. Mas seu desenho não favorecia a manutenção da perlage (pequenas bolhas). Foi então que se criou-se a flûte, ou flauta, cujo design mantém uma área de evaporação menor na boca mantendo as delicadas bolhas ao fundo. Em 2009, a partir de uma parceria entre Embrapa Uva e Vinho, Associação Brasileira de Enologia (ABE) e a Cristallerie Strauss, de Blumenau, foi criada a taça do Espumante Brasileiro, feita artesanalmente e com bojo ainda mais sinuoso mantendo o borbulhar constante do líquido.

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Maria Antonieta e seu pei…quer dizer, sua taça (foto: Clube dos Vinhos)

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Viu o formato triangular na base do bojo? Eis o segredo 😉 (foto: Roka)

 

Lorde conhaque

Conhaque, brandy ou brande: pode escolher o nome. A bebida, que é destilada duas vezes do vinho e envelhecida em barris de carvalho francês, foi criada por volta de 1.300 na região de Cognac, daí o nome em português (aliás, tal como Champagne, só é considerado conhaque os fabricados na região de origem). Bom, a história, em linhas gerais, é que se produzia ali um vinho inferior, branco e de graduação alcoólica muito baixa. O problema é que os produtores do vinho tinham dois inconvenientes na produção: primeiro, que o líquido era muito delicado, se deteriorava rapidamente; segundo, que as taxas que o governo francês aplicava sobre as bebidas exportadas eram muito pesadas. A solução? Destilar uma parte do vinho! O álcool obtido, de alta graduação e muito concentrado, seria  exportado e  o consumidor acrescentaria  água, obtendo um novo vinho. Acontece que uma parte desse álcool não foi exportada, nem incorporada. Simplesmente ficou envelhecendo em barris de carvalho.E com o passar do tempo, foi adquirindo uma cor caramelo e perdeu muito de  seu  ardor.  Nascia, assim,  o  conhaque. 

O conhaque é uma bebida para se tomar no frio, por conta do teor alcoólico e concentração de odores. E, se a taça exige certa distância das mãos, o conhaque quer elas bem por perto. Por isso, a forma ideal é servir em cálices bojudos, para facilitar esse contato.  Tradicionalmente, o copo de conhaque é aquecido com uma vela, fazendo com que a concentração da bebida aumente e você sinta o calor que o conhaque te proporciona. Agitando a taça, o aroma se destaca ainda mais. E quanto mais tiver sido envelhecido em madeira, mais atraente é o seu perfume. (Fontes: Revista Mensch)

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Palmas para o suporte também 🙂 (foto: Magnicient Home Style)

Mas vamos ao que importa, o design dos copos que, para mim, são os mais lindos!

 

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Fontes para a montagem:  EHow / Cognac Expert

 

On the rocks, baby

Whisky vem de uisge que, em versão reduzida, significa “água da vida”, em gaélico escocês. Isso porque a produção inicial estava ligada a monastérios onde o tal licor era usado com fins medicinais. A produção foi introduzida pela tradição irlandesa no século IV ac e a destilação era essencial para os moradores por causa do clima das terras altas. Feito de água e cevada essencialmente, o whisky é o sangue da Escócia tanto histórico, social quanto economicamente. (Fonte: Clã do Whisky)

Mas vamos ao copo! Que pode ter vários nomes: old fashioned, double old fashioned ou on the rocks. 

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Fonte da montagem: Revista Adega

 Quem precisa de gelo? Pois é, parece incoerente, mas foi essa a pergunta que o designer Kacper Hamilton fez. E o resultado foi a linha de copos para whisky L’Art de la Dégustation. Funciona assim: no centro do copo há um orifício no qual se encaixa um metal responsável por resfriar a bebida. Assim, não é preciso diluir o whisky em água, o que o preserva em sua pureza.

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A abertura incentiva o movimento do líquido (quero ver é mantê-lo no copo depois de umas e outras, rs)

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É a base de metal que vai manter tudo geladinho (ela vai para a geladeira antes)

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E eis a torre de copos :)))

 Tiro rápido

Falemos agora dos copos pequeninos, mas que guardam as mais fortes bebidas.  Trocando em miúdos, la mexicana tequila e a brasileiríssima cachaça. A primeira vem do agave azul, planta de clima árido, vulcânico e utilizada de mil formas em suas partes, mas que só foi destilada em meados do século XVI. Há uma lenda que diz ter sido durante uma epidemia de gripe em 1918 que alguns médicos começaram a receitar “shots de Tequila” como tratamento (que beleza!). Pois foi daí, segundo a lenda, que surgiram as pequenas medidas. 

E, ao contrário do que muitos pensam, o copo de tequila não é o de shot. Para ela, existe o Caballito, com as mesmas medidas de base e boca. Outra diferença está na forma de consumo: ao invés de ingerir de uma vez, toma-se em pequenos goles.

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Todo quadradinho ❤ (foto: Business People Unlimited)

Aproveitando a deixa, a história dos copos de shot também é regada a lendas. Fato é que na Itália ele foi usado durante dois séculos no lugar do Jigger, feito para beber licor antigamente.

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Hoje, ele é usado como medidor para drinques (foto: Verema)

 

O recipiente (shot) foi assim chamado oficialmente pelo New York Times afim de padronizar o volume do líquido no recipiente, na cidade, já que se vivia tempos de lei seca. Também há a história de que o nome viria de seu possível criador, o alemão Friedrich Otto Schott. A medida que se tornou popular, o nome teria sido encurtado.  (Fonte e foto: 4C – 2013.02)

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Põe quarentinha aí, garçom.

Bom, voltando à tequila, o Consejo Regulador de Tequila desenvolveu, junto à empresa Riedel, uma taça semelhante a de espumantes para valorizar a degustação dos aromas da bebida envelhecida, a Copita. E é mais ou menos a mesma coisa que acontece com a cachaça, por exemplo. Os produtores de cachaças envelhecidas têm se preocupado em destacar as qualidades do produto. Ainda não existe uma taça padrão para esse tipo de cachaça e os modelos encontrados no mercado podem ser muito parecidos com taças de licor, vinho do Porto ou brandy.

Fonte: Papo de Bar  / Vitro / Revista Adega

 

Bom, eu sei que há mais copos superinteressantes por aí mas, quer saber, me deu uma sede… Vou ali tomar uma e já volto com bons drinques e, claro, com a caneca mais querida também!

Saúde!

😉

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