Faz tempo que o papelão deixou de ser mero suporte de embalagem para se transformar no material principal do mobiliário. Algumas empresas, como a 100’t (falei sobre ela há alguns posts), inclusive, andam ganhando dinheiro comercializando apenas móveis feitos de papelão. Acho o máximo. É sustentável, é mais acessível, é resistente, ou seja, tem tudo a ver com o momento atual.
Mas quando eu bato o olho numa peça assim, eu sempre fico pensando: tá, será que, além de achar a ideia incrível, eu compraria? Nós, brasileiros, ainda não chegamos no nível dos europeus, por exemplo, que dão muito valor a essa ideia e apostam nela por si só. Mas acredito que não é só isso. Além do olhar torto sobre o material simples, há a questão estética. Sim, porque, ela também está na base de toda peça de design. O apelo estético é fundamental na hora da compra. Não há como fugir. E é por esse caminho que, acho eu, o mobiliário de papelão deve caminhar. O diferencial vai ser a forma, o desenho que ele vai ganhar. Assim, quanto mais criativo for o design, mais a gente vai se deixar conquistar pelo até então subestimado material.
Não entendeu ainda? Então deixa eu desenhar…
O holandês David Grass sabe das coisas. Desenhou uma cúpula feita de papelão, mas com um desenho tão delicado e belo que fez da caixa de papelão objeto de desejo.
Not a Box é uma luminária tão simples quanto genial
Assim como a luminária Not a Lamp que pode ser comprada no site
Se uma cabeça já pensa isso, duas vão além, como provaram os ingleses Richard Sweeney e Liam Hopkins, em parceria com a fábrica de papelão John Hargreaves. Juntos, eles criaram a Bravais Armchair e o Radiolarian Sofa, inspirados na natureza – numa casa de marimbondos e nas estruturas óssea de microorganismos marinhos. O resultado são formas triangulares tão bacanas que nos fazem esquecer até do papelão.
A mistura da geometria com os contornos orgânicos criam um efeito pra lá de interessante
Já o Radiolarian ganha proporções arquiteturais
Além do design bacana, essas peças são de fácil montagem. Exemplo dessas luminárias de papelão da marca espanhola Carton Lab que funcionam como peças modulares. Ou seja, você além de montar pode fazê-lo de várias formas.
A palavra de ordem aqui é encaixe!
Há quase duas décadas trabalhando com o papelão e suas possibilidades, o Giles Miller Studio, de Londres, consegue efeitos incríveis em materiais usados em revestimentos domésticos e comerciais. Muitos deles nem sequer dão pistas do que são feitos.
Feito para ficar no lobby da marina St Katherines Dock, esse painel parece de madeira, né?
Mas basta ir chegando mais perto…
…E mais perto para ver que é de papelão!
Outra técnica que surpreende e garante o diferencial atrativo é o efeito sanfona. A 100’t, por exemplo, tem sofás que se flexionam à medida da necessidade.
É só puxar…
… E dar a forma que bem entender
Ou então criar uma ideia de casulo, tal qual a já citada casa de marimbondo, só que tridimensional. Criações também da 100’t, essas luminárias sanfonadas são um bom exemplo disso.
Funciona bem para o pufe
Garante o efeito na banqueta
E vai fazer o marimbondo achar que a luminária é a casa dele
Mas se há um bom desenho, nem sempre se precisa dominar técnicas mais complexas para garantir o efeito uau da peça. Exemplo da Conversation Table (que leva madeira também), do designer Leo Kempf.
Um bom pretexto para embalar um bom papo, não?
O que dizer também desse banco fofo criado pelo designer Michael Sholk? Ele foi buscar no Barroco a inspiração para rebuscar os contornos da peça e acertou em cheio!
Não é uma fofura só?
O que me incomoda, por vezes, também é essa cor, sempre crua, do papelão. E tem acertado quem dribla esse empecilho com criatividade. O designer alemão Reinhard Dienes fez algo simples, mas de grande efeito: jogou cor.
Não bastassem os recortes modernos, o amarelão garantiu o charme da estante
Ou quem sabe o azul? O leque de cores continua aqui. Divirta-se!